Metamorfose

Metamorfose
Parafraseando Raul Seixas: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo (...) Eu vou lhes dizer agora o oposto do que eu disse antes!"

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar"
Martha Medeiros

sábado, 4 de dezembro de 2010

Inspiração: Relicário

 Hoje postarei uma de minhas canções prediletas. Inclusive, diga-se de passagem, trata-se da música que inspirou a escolha do nome deste singelo blog. Além da composição, da letra ímpar, da sensibilidade melódica, é de autoria de Nando Reis, um dos "poetas" do século XXI.

Relicário

Composição: Nando Reis

É uma índia com colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o "A" de que cor?
O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou
E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar onde eu não vou
O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso desse amor
Corre a lua, porque longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por essa noite
Porque está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for
Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente, dura o futuro amor
Eu sou a chuva prá você secar
Pelo zunido das suas asas você me falou
O que você está dizendo?
Milhões de frases sem nenhuma cor
O que você está dizendo?
Um relicário imenso desse amor
O que você está dizendo?
O que você está fazendo?
Porque que está fazendo assim?
Está fazendo assim!

sábado, 20 de novembro de 2010

Fenômeno

(Renata Maurício Sampaio)

A Vida segue seu curso natural:
É um rio.
Muitas vezes beleza,
Outras, tristeza,
O vazio.

A Vida-Rio desliza por entre as pedras do Acaso
Pedras que edificam sonhos
Mas promovem também  o fracasso
Tornando o trajeto sinuoso e medonho.

 Oh Rio-Vida!
Ajude o dia a vestir seu manto escuro,
Mas presenteie os mortais com a claridade
Que amanhece o incerto futuro
E  traz serenidade.

Transforme as turvas águas
Na fonte  mais cristalina e pura
Lave do meu coração as mágoas
Não deixe minha vida escura!

Goteje sob  meus dedos sutis
E  inunde meu Ser de esperança.
Escape dos meus desejos vis
Quero ser novamente criança!

Abro-te, ó Vida, caixinha de surpresas,
Retiro de ti um momento  jamais vivido.
Embriago-me sem  defesas
Feito uma criança que sorri para o desconhecido.

Assim também procedo:
Como o rio
Na tentativa de vencer o medo,
Sigo em frente, choro e rio.

Quero desaguar-me no Mar do Indescritível
Viver um momento imprevisível
E experimentar sensações inimagináveis
Fontes de prazer inesgotáveis.

Vou soçobrar e vir à tona novamente
Mergulhando incessantemente
Com o fôlego das criaturas imortais
Que não se contentaram com a beira do cais.

E,  quando for chegada a minha hora
Quero beijar sorrindo  a face fria da Morte
Porque vivi o Agora
E cumpri minha Sorte!

sábado, 6 de novembro de 2010

A banalização da tragédia

Lamentavelmente, a tragédia sempre esteve presente em situações reais da nossa vida cotidiana. Ela é insinuada nos clássicos literários desde a Grécia Antiga até a literatura atual, numa tentativa de enfatizar os conflitos individuais e coletivos característicos da complexidade humana.

Com o advento da modernidade, a atmosfera trágica vem fazendo parte da vida das pessoas como nunca antes, pois a falta de tempo e o corre-corre em que se transformaram suas vidas desfazem os laços de afetividade, amizade, companheirismo e afeto: o outro passa a ser visto como um ser qualquer, sem a menor importância.

 Tudo isso é tão explícito que pode ser observado nas letras de músicas, programas e noticiários de televisão, jogos de videogame e informática, os quais acabam por incentivar e conduzir as pessoas a praticarem atos violentos, que quase sempre resultam em destruições e fatalidades.

Tornou-se trivial conviver com manifestações de loucura e violência, em que as pessoas praticam o mal e projetam para fora toda a descarga agressiva que, consciente ou inconscientemente, faz eclodir sentimentos negativos e destruidores, como guerras, revoluções, torturas, acidentes fatais, crueldades de todos os tipos, assassinatos, suicídios, estupros, seqüestros e atentados terroristas, dentre inúmeras outras circunstâncias que estão ao nosso redor.

Certa feita, presenciei a cena cabal de uma inimaginável inversão de valores: Um grupo de pessoas, do qual eu fazia parte por acaso, assistia ao noticiário local, que registrava, do alto do helicóptero, por meio do mais elevado grau de sensacionalismo, com câmeras acopladas em todos os lugares (im) possíveis para que nós, telespectadores, acompanhássemos a cena dantesca do melhor ângulo, o seguinte acontecimento: Ameaça saltar do décimo andar do arranhacéu um pai de família, calejado, sofrido, desempregado, por não mais suportar a dor de ver seus seis filhos e esposa passando fome, sede e frio...

Tamanha foi a minha perplexidade ao constatar que a maioria dos telespectadores ali presentes, de olhos fitos na tela, recolhidos no alto de suas frias e desoladas torres, torciam, implícita ou explicitamente, para que aquele senhor pulasse logo... Após cada chamada de comercial, esperavam-se as cenas dos próximos capítulos. Ao me deparar com aquele episódio, regressei inconscientemente à Roma antiga, à época em que o deleite da plebe brutal  se resumia na enérgica torcida para que o leão, solto na arena (cuja fome despertava sua ferocidade nata) devorasse aquele pobre elemento humano, já fadado a transformar-se em vítima fatal, localizada no centro da esfera de ação daquele animal de juba eriçada.

Um desfecho inesperado, em ambas as cenas, tal como (paradoxalmente) a ausência da tragédia, faria com que os olhos dos espectadores faiscassem de raiva e desapontamento. E se, de repente, a fera ali agisse como um cãozinho acariciado por seu dono? E se aquele senhor resolvesse não saltar? E se houvesse um momento de iluminação, epifânico, e um lampejo de consciência envolvesse aquela pobre alma, fazendo-a desistir do suicídio? Certamente reinaria, naquela sala, bem como naquele momento bárbaro, a frustração e o descontentamento, dada a inclinação para o mal da essência humana.

Fatalmente, a tragédia transformou-se em algo tão banal e rotineiro que as pessoas não se sentem sensibilizadas, chocadas ou ao menos assustadas quando se deparam com tais situações; tornam-se  omissas e alheias às injustiças do mundo,  e isso faz com que elas alimentem seus egoísmos e estejam despreocupadas em zelar pela harmonia e o bem-estar de todos.

Começo a compreender que falar em “humanização” do ser humano não constitui um pleonasmo vicioso...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"Stat sua cuique dies": "A cada um seu dia"


Os dizeres do título deste texto foram retirados da Eneida, de Virgílio. Eles revelam a nós, mortais, ansiosos por natureza, que o momento chega para todos. E é exatamente isso que contemplarei nesta primeira postagem.

Seguindo os ensinamentos do Pai, em Eclesiastes, 3, 1-8, somos levados a refletir o seguinte:“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar; e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo dar abraços; e tempo para apartar-se; tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora; tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar; tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz.”
Essas sábias palavras explicam a criação deste blog. Em minha existência, sempre ouvi sugestões para criar um espaço para publicar meus textos, trabalhos, devaneios e conjecturas. Convivi com essas ideias durante muito tempo. Hesitei, muitas vezes, empolguei, outras tantas. Entretanto, jamais ousei assim proceder e, sinceramente, desconheço o motivo.

De repente, surge uma inquietação tremenda, conotativamente entendida como contrações, dores do parto. É chegada a hora. Este é o momento! Para alguns, tardio, para outros, incipiente, para mim, exato!!!!

A paixão pela leitura e pela escrita sempre acompanhou minha trajetória. E hoje, no auge de minha fase balzaquiana, ainda que a gestação tenha durado décadas, sinto que é o instante do parto. Mas é um parto diverso, ímpar, pois é múltiplo, em doses homeopáticas, nascimento e re-nascimento diário, um caleidoscópio de emoções veladas que, paulatinamente, se descortinam...

Tudo o que for postado aqui será um pedacinho de mim. Há uma máxima latina que ensina: "Gaudeat illa domus, quando bonus est ibi promus", traduzindo, "Pela casa se conhece o dono". Esta é minha casa e, consequentemente, a casa sou eu.

Abraços!